Entrevista exclusiva com professores de Parkour de Curitiba

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Introdução

Na primeira quinzena de março de 2011, o professor de Educação Física Luiz Henrique Simioli Furlan Oliva entrevistou os traceurs Lucas Robert Ribeiro de Lima e Cassio Dias de Andrade Junior, responsáveis por um projeto de aulas de parkour em contra-turno no Colégio OPET da cidade de Curitiba – PR, desenvolvido no ano de 2010, buscando informações e esclarecimentos sobre diversos aspectos da modalidade que vem ganhando cada vez mais adeptos pelo país.


Objetivo

O cunho da pesquisa foi o de buscar embasamento e referencial teórico-metodológico para aplicação do parkour dentro das aulas de Educação Física, bem como de compreender o processo de ensino de uma modalidade em fase de ascensão de sua prática na realidade escolar.

Sendo traceurs experientes e com muita vontade de divulgar a modalidade, Lucas e Cássio realizaram um trabalho dentro do colégio OPET com aulas em contra turno para um grupo experimental de alunos interessados em praticar o parkour.

Segundo as palavras do próprio Lucas:

Nosso objetivo, é que os alunos vejam no Parkour uma nova possibilidade de crescimento físico e mental já que se trata de uma atividade completa tanto pelas capacidades físicas que desenvolve quanto pelo controle mental que inspira: força de vontade, determinação, motivação, resistência e coragem. O praticante irá constantemente avaliar o seu exterior (obstáculos, distância, altura e riscos) e seu interior (medo, capacidade, condicionamento), na tentativa de perceber seus limites e sua capacidade de rompê-los. Objetivando que a disciplina seja mais do que uma prática puramente corporal, podendo ser encarada como filosofia, estilo de vida e caminho para o autoconhecimento. (’Objetivo Educacional’ – Plano de Aulas Parkour OPET).”


Abaixo o link para o trabalho realizado pelos rapazes:

http://www.aulasdeparkour.com.br/parkour-na-escola-colegio-opet/


Lucas e Cássio também são integrantes do GAP (Grupo Aulas de Parkour) de Curitiba, grupo ao qual também pertence um grande conhecido do parkour brasileiro, Tiago “Lambão”.

Mais informações em:

http://www.aulasdeparkour.com.br


Entrevista

1 – em qual conteúdo estruturante o parkour é apresentado? E como ele é direcionado dentro deste conteúdo (como vocês estabelecem uma ligação entre o conteúdo e o parkour).

Lembrando os conteúdos:

  • Jogos e brincadeiras

  • Dança

  • Saúde

  • GinásticaX

  • Esporte

  • Lutas

O parkour foi apresentado nas escolas como uma atividade extracurricular, não sendo incluído como parte do currículo escolar da Educação Física. O objetivo da escola foi oportunizar novas práticas corporais aos alunos, como uma atividade extra. Acredito que se enquadre melhor na ginástica por trabalhar diversos padrões de movimentos, desenvolvendo os alunos por completo.


2 – quais objetivos almejados (específicos) dentro da estruturação das aulas? Formação da dimensão corporal e das diferentes manifestações da cultura corporal (corpo e movimento)?

O objetivo geral foi fazer com que os alunos vissem o parkour como uma nova possibilidade de desenvolvimento físico e mental. Capacitando-o a avaliar fatores intrínsecos (habilidades motoras, habilidades físicas, medo, concentração, atenção) e extrínsecos (ambiente, distância, altura, riscos, condições ambientais) a fim de adquirir melhor habilidade de deslocamento e interação com o ambiente.


3 - qual a expectativa em relação à socialização por meio da prática do parkour?

A expectativa é a de que a socialização só venha a melhorar após o início da prática. O fato de o parkour ser um esporte sem competições e voltado para o crescimento pessoal fará o praticante ver o próximo não como rival, mas como alguém que ele possa ensinar e aprender também. Além disso, com o tempo o parkour proporciona mais segurança à pessoa, não apenas em sua movimentação, mas também na autoestima e a autoconfiança do praticante, que o fazem confiar mais em si mesmo em qualquer situação, seja no trabalho, na escola, na família ou relacionamentos pessoais.

Além desses pontos, observamos que muitos dos nossos alunos eram alunos que não foram incluídos nas demais práticas tradicionais, que por muitas vezes trabalham com conteúdos excludentes. No parkour eles conseguiram encontrar uma forma diferente de ganhar destaque diante dos demais.


4 – vocês estabelecem metas em obtenção de resultados (rendimento) a qual prazo? (justifiquem a resposta)

Metas e obtenção de resultados dentro do parkour são assuntos delicados de se trabalhar (principalmente quando estamos falando sobre parkour para crianças). Primeiro pelo fato de que não existe um padrão para o parkour, cada praticante é diferente e não existe uma graduação ‘a partir de tal experiência ele será um traceur’, ‘sabendo tais movimentos podemos considerar evolução’.

O que fazemos é procurar conhecer o aluno ao máximo, por observação, e a partir dali ver aonde ele pode melhorar com base em nossa experiência. Tivemos alunos que queriam emagrecer, queriam chamar a atenção no colégio, queriam fazer como veem nos vídeos, ou queriam apenas se divertir. O principal desafio no parkour para as crianças é os fazer entender o que é realmente o parkour, buscarem e sentirem a evolução pessoal, o aprimoramento físico e técnico é ‘mais fácil’ de ser atingido comparado ao mental.

E sim, conseguimos atingir esse objetivo. O desenvolvimento de condições físicas e motoras poderia ser avaliadas por checklist de testes antes e pós o período de treinamento, porém não era esse o objetivo. Mesmo sem dados técnico-científicos, observamos que o desenvolvimento físico, motor e mental dos alunos foi maior que o esperado.


5 – realizam estudos de debilidades posturais, estudos de testes motores (força explosiva, flexibilidade, IMC, etc.) antes e após o início da prática do PK por parte dos alunos? (justifiquem a resposta)

Não. Infelizmente nem o colégio e nem a gente pode realizar tais testes. Primeiro por, infelizmente, não ser um hábito da maioria das instituições esportivas e de ensino em todo o Brasil, e segundo, por falta de estrutura e capacitação (formação) para realizar tais testes.

O recurso que tínhamos era recomendar o aluno que fosse ao médico em caso de dores ou coisas do tipo e em caso de alguma restrição, adaptávamos o treino. E logicamente que pela experiência e conhecimento que temos julgávamos o que fazer ou não. Infelizmente são poucos, no parkour, profissionais da área de Educação Física, que são capacitados pra tais avaliações. Atualmente no Brasil o ensino do parkour acaba ocorrendo de forma empírica, na maioria das vezes sem formação para trabalhar aspectos mais específicos da Educação Física.


6 – vocês tratam com atenção especial o tema flexibilidade (o que, creio eu, é um fator/tema de fundamental importância no PK)? (justifiquem a resposta)

Dentro do possível. Porém, por não haver orientação profissional em todos os momentos das aulas, tentamos evitar dar muita atenção a fatores físicos e motores, nos restringindo mais a técnicas de movimentação. O desenvolvimento físico e motor surgem por consequência.


7 – vocês realizam trabalhos sobre aumento de resistência aeróbia?


Sim. Muitos dos alunos que tivemos eram ‘ex-sedentários’, então periodicamente realizávamos treinos que exigissem do condicionamento físico dos alunos, como corrida, movimentos de quadrupedal, etc.



8 – é aplicado algum sistema de avaliação, são realizadas provas práticas para verificar o desenvolvimento dos alunos ou isso se dá gradativamente no dia-a-dia? (justifiquem a resposta)

Não são aplicadas avaliações. Utilizamos a observação para perceber o desenvolvimento do aluno e realizar as devidas adaptações aos treinos.


9 – qual método de ensino é utilizado? (parcial ou global ou misto? - justifiquem).

De qualquer forma, pelo pouco que entendo destes métodos, revendo tudo que foi feito, sem dúvidas o método aplicado foi o misto.


10 – qual a gama de equipamentos disponíveis?

Não temos equipamentos disponíveis. Utilizamos apenas estruturas da escola para os treinos. Os movimentos eram treinados em ginásio (poliesportivo) e em um bosque dentro da escola. No bosque utilizamos mesas, árvores, raízes, corrimões, degraus, etc.


11 – é realizado avaliação de aptidão física? (como? Onde? Quais os testes).

Não.


12 – como está classificada (na opinião de vocês) a intensidade da prática do PK voltados para as respectivas faixas etárias com as quais trabalham? (baixa, média, forte ou muito forte - justifiquem)

De baixa a média. Nossa ideia não era exigir performance, mas apresentar o parkour a fim de desenvolver, progressivamente as potencialidades dos alunos. Dessa forma, não utilizamos treinos de exaustão.


13 – os pais tem participação ativa quanto aos treinos? É explicado a eles a importância do exercício físico e o auxílio que ele presta no desenvolvimento do aparelho locomotor das crianças e adolescentes e esta explicação é estendida aos próprios praticantes (alunos)?

Todo semestre há um treino com os pais, onde os mesmos são convidados a assistir e até participar das atividades. Trata-se de uma oportunidade de acompanhar as atividades do aluno, e esclarecer dúvidas com relação à prática. Os pais sempre foram bem recebidos nos treinos e informados sobre os riscos e benefícios do parkour.


14 – é realizado algum tipo de recomendação com relação à alimentação dos futuros traceurs? Para controle de peso e hábitos saudáveis?

Sempre orientávamos a prática de atividade física regularmente e boa alimentação. Porém fazíamos na forma de orientação. A prescrição de dietas cabe aos profissionais capacitados. Incentivamos também acompanhamentos médicos e informamos sobre o grande benefício que a prática de exercícios traz a qualidade de vida.


15 – com relação ao desenvolvimento motor (nas propostas apresentas por GALLAHUE E OZMUN, 2005) são seguidas algumas das recomendações acerca dos estágios (relacionados à idade) inicial, elementar e maduro para:

  • Rolamento do corpo

  • Desvio

  • Equilíbrio em um só pé

  • Caminhada direcionada

  • Apoios invertidos

  • Corrida

  • Salto de uma determinada altura

  • Salto vertical

  • Salto em distância

  • Galope e deslizamento

  • Pulo

  • Salto misto

* todos estes estágios estão presentes na literatura apresentada pelos autores acima (em minha opinião os mais influentes e conhecidos da área). Minha curiosidade dá-se pelo querer saber se vocês aplicam estes preceitos no desenvolvimento das aulas e dependendo da idade maturacional do aluno, se vocês respeitam ou avançam níveis (desde que, é claro seja viável e possível).

Em nosso planejamento utilizamos conhecimentos a cerca do crescimento e desenvolvimento motor baseados em Gallahue e Ozmun. As faixas etárias que trabalhamos já se encontravam todas na fase motora especializada, o que pela teoria permitira que trabalhássemos movimentos específicos. Porém é notória a lacuna deixada no processo de desenvolvimento motor de alguns alunos, sendo que muitos dos trabalhos contribuíram para uma melhora nessas lacunas deixadas. Volto a repetir que essas conclusões são feitas por observação de 1 ano de trabalho em conjunto, já que não foram realizadas avaliações. Foi considerada a idade respeitando o estagio motor que cada criança encontrava-se.


16 – são realizados trabalhos do componente de aptidão motora? (coordenação, equilíbrio, velocidade, agilidade, potência) – justifiquem como e por que.

Na verdade o próprio parkour acaba exigindo muitas habilidades da fase motora fundamental. Posso afirmar que mesmo focando o treinamento em técnicas do Parkour, o desenvolvimento da aptidão motora e física acabava sendo trabalhados por conseqüência.


17 – (opinião pessoal) para a aplicação do PK creio que o contexto mais fácil ao qual ele (o PK) se encaixa é o da ginástica (enquanto conteúdo estruturante – deixei esta afirmação aqui pra não bater de frente com a opinião de vocês), sendo assim gostaria de saber como vocês procedem diante do uso das habilidades motoras especializadas para ginástica no contexto de adolescência (Gallahue e Ozmun, 2005, p. 381 – caso tenham acesso à este livro, o qual enfatizo, seria de muita utilidade para as aulas de vocês).

Não há como afirmar que essas potencialidades foram desenvolvidas por completo por falta de avaliações motoras. Porém acreditamos que a prática do parkour talvez seja uma das que trabalham maior variedade de habilidades motoras, o que com certeza trará benefícios para o desenvolvimento de habilidades especializadas. Acredito que podemos associar o parkour ao comportamento ideal que todos deveríamos ter na fase motora fundamental, somado com movimentos especializados, que exigem técnicas específicas. O parkour oferece uma gama de movimentos básicos a serem desenvolvidos e a serem especializados.



Agradeço desde já, peço desculpas pela demora e assim que possível gostaria de fazer uma visita e conhecer tanto vocês quanto o projeto e também levar alguns traceurs da minha região (fazer um intercâmbio, não digo para o mês de março (porque meu caro governador não vai pagar meu salário nesse mês = FD@%3@#$%), mas logo gostaria de combinar uma visita pra pular por ai.


Grande abraço,


Autor: Luiz Henrique(Parkour Londrina)

Revisão ortográfica : Danilo(Parkour Londrina) e Henrique(Parkour Toledo/Londrina)

6 comentários:

Profº Luiz disse...

valew TOLEDOMAN!

Leonard Akira disse...

Adorei parabens pela iniciativa! :)

Henrique Beloto disse...

Eu que agradeço, Professor Luiz! Muito obrigado por conceder uma coisa séria como sua entrevista ao meu blog de cocozinho. ^^

Passarei os agradecimentos ao Luiz, Akira. Obrigado! xD

Profº Luiz disse...

cocozinho NADA!! isso é só o começo fi! te prepara que o próximo será o evento do 1º workshop Procopense de parkour, com direito a tracers de londrina, cambé, maringá, são chico, santa cecilia e muitas cocotas!!!!!
eu que agradeço o espaço no blog SER E DURAR

Henrique Beloto disse...

As cocotas eu passo. O parkour me gusta.

Lucas disse...

Caramba, parabéns ae, tanto à você quanto ao Lucas e ao Cassio

Postar um comentário