Estamos livres para treinar?

quinta-feira, 16 de maio de 2013


DIREITO DE NÃO IR NEM VIR EM CURITIBA (DESABAFO)

Em 2007 fui na Praça 29 de Março, em Curitiba PR, pela primeira vez. Nunca tinha ouvido falar do lugar e fui para visitar um treino de Parkour. Quando cheguei, fiquei impressionado com a quantidade de jovens reunidos para praticar exercício físico. Todos conscientes, respeitando as pessoas e o lugar, além de uma educação incomum, o que tirou totalmente o pré-conceito que tinha com a modalidade e outras “práticas urbanas”.

Estive lá pela primeira vez em 2007, mas desde 2005 um grupo de praticantes se reunia no local, que se tornou referência para o Parkour na cidade de Curitiba. Para quem não conhece, o Parkour é uma disciplina corporal que visa o desenvolvimento de habilidades de deslocamento e com uma filosofia muito forte pautada na evolução pessoal.

Por mais de 8 anos a Praça 29 de Março é utilizada como o local mais tradicional na prática de Parkour na cidade. Frequento esse lugar há pelo menos 6 anos, e nesse tempo pude acompanhar muitos fatos que gostaria de compartilhar.
Além de um local para a prática de Parkour, também existem outras pessoas que utilizam como forma de lazer ou atividade física (corrida, jogos de quadra, exercícios nas barras, skate, bike, entre outros).

Porém, nem tudo são flores. A Praça também é um local que de uns anos pra cá passou a ser ponto de consumo e comercialização de drogas, abrigo de moradores de rua, alvo de pichadores e outros grupos que pouco contribuem para a melhoria da sociedade, pelo contrário.

É comum aparecerem garrafas de vidro quebradas, camisinhas, cigarros, etc. no parquinho, onde durante o dia muitas crianças frequentam para brincar.
O que mais me indigna, é a tentativa da Guarda Municipal de Curitiba em coibir a prática do Parkour na Praça. Por pelo menos 8 anos o local estava “esquecido”, a não ser pelo jardineiro que cuida e muito bem do lugar. Nos últimos 6 anos convivi durante a luz do dia com o cheiro de maconha na praça, durante meus treinos, e nada nem ninguém tomou atitude nenhuma.

Nos últimos dias a Prefeitura Municipal de Curitiba lançou um programa de revitalização das praças, onde a 29 está em processo de reforma e recebeu um modulo 24h da guarda municipal. Isso tudo para nossa alegria, pois a nossa segurança estava garantida, foi o que pensamos. Porém, nem tudo são flores.

A Guarda Municipal passou a intervir na prática de Parkour na 29 de Março, afirmando ser proibida a utilização do local para isso. Qual a vantagem para a prefeitura em proibir uma prática SAUDÁVEL em um espaço público, que por tanto tempo ficou ‘abandonado’ e alimentando outras atividades que nada contribuem para o bem estar social?

Galera, isso me revolta, e muito. Sabendo o crescente índice de violência na cidade, na qual a GM deveria estar atuando para garantir a segurança das pessoas de bem, perdem tempo coibindo atividades como o Parkour (não só o Parkour, mas outras modalidades urbanas tem passado pelo mesmo).

Me revolto como cidadão, como professor, como educador e como praticante. As autoridades deveriam estar lá para garantir a segurança de quem utiliza o espaço de forma benéfica. O Parkour é uma prática de lazer, um exercício físico que não causa dano nenhum ao espaço público (tanto que em 8 anos, nunca houve nenhum ato de depredação). Os praticantes de Parkour e os moradores da região deveriam ser estimulados a praticar exercício físico, seja ele qual for, e uma praça pública deveria ter essa função.

Falta informação, falta bom senso, falta estimulo, falta suporte, falta exigirmos o nosso direito de poder sair de dentro das nossas casas com segurança, sendo garantidos de que independente da prática que fizermos, se ela for benéfica, se não afetar ninguém, deve ser permitida.

Já vi muitas pessoas mudarem de vida por meio do esporte, por meio do Parkour. Espero muito que um dia aconteça aqui o que já acontece em países desenvolvidos na Europa, onde as práticas urbanas são valorizadas e incentivadas pelos órgãos públicos, pois os mesmos tem o bom senso de buscar saber do que se trata e os benefícios que podem trazer, ao invés de simplesmente proibir.

Quem sabe um dia isso mude, e para melhor.

(Foto: 1º Encontro Paranaense - 2007)
Texto escrito por Cassio Junior.
Retirado dessa postagem Relato de Cassio, por favor compartilhem.

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