5º Encontro Mineiro de Parkour

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Estava procurando algum vídeo ou alguma coisa que tirasse minha curiosidade dos acontecimentos no 5º EMPK como foi o treino com os gringos, etc...
O Jean tirou quase todas as minhas dúvidas no http://blog.parkour.com.br!
Achei muito interessante o modo como os gringos pensam *-*.
Galera, se tiverem um tempinho leiam o texto do Jean, ele colocou de forma detalhada os acontecimentos do evento e muito mais confiram!

Lembrei do Henrique quando estava lendo o texto.

Um trecho do texto.

"Quando chamo eles de brutos, não me refiro só a conotação de “forte” ou “viril”. Mas bruto no sentido daquilo que não foi lapidado. Durante todo o papo, e sobretudo com uma conversa mais direta e pessoal com Chau depois, foi possível ver o quanto de coração essas pessoas têm. Se tratam de pessoas com origem humilde, com muito VALOR pra compartilhar, pessoas que falam muito com o coração e menos com a razão. É como a expressão“diamante bruto” – pessoas sem muito refinamento, geralmente humilde, mas quetêm muito valor dentro de si (já viram Aladdin?). "

Para ler todo o texto acesse o PakrourBR ou clique no link abaixo.




5º Encontro Mineiro de Parkour com Yamakasi – Impressões


O blog estava abandonado, mas fiz um texto recente que se encaixa aqui. Continuo postando notícias quase que diariamente no Pulo do Gato. :) Queria ter sido mais sucinto mas a versão resumida me rendeu 4 páginas de bla bla bla, então se você quer mesmo saber o que eu achei do encontro e dos Yamak, senta que lá vem história! :D


Aconteceu nesse final de semana o 5o Encontro Mineiro de Parkour. Um evento incrível marcado por 2 franceses extremamente brutos e fofos e gigantescas bolhas nas mãos.


Pra falar desse evento, é impossível não falar de expectativa. Pela segunda vez consecutiva, o PKMAX trouxe ao seu tradicional evento pioneiros responsáveis pelo desenvolvimento do Parkour no mundo inteiro.

Na primeira vez, em 2010, Stephane Vigroux, Blane e Dan Edwardes vieram ao Brasil com o intuito de passar a certificação ADAPT a um seleto grupo de interessados e promover workshops durante o EMPK.

Era uma oportunidade promovida pelos organizadores de ter um contato maior com a história e os treinos de pessoas responsáveis pelo Parkour que conhecemos hoje.


Acostumados com com o formato tradicional e proposta de integração e união dos “encontros” de Parkour pelo Brasil, muitos foram com a expectativa de “treinar com os gringos”, se mover junto a eles, e trocar experiências. Uma expectativa que não foi atingida, devido a proposta do evento de ser um workshop do grupo Parkour Generations e dos ADAPTados. Alguns de nós saímos mais com a impressão de ter sido mais um evento para testar os recém certificados do que uma experiência de integração com os gringos. Acabou por cada um tentar tirar o máximo de proveito da situação.

Após essa experiência, formou-se, pelo menos por mim e algumas pessoas próximas, uma expectativa de evento semelhante esse ano. Um evento onde os “gringos” novamente manteriam uma distância e não se colocariam como um de nós, praticantes. A mesma postura “profissional” do evento anterior.
Pois bem.. Ledo engano. Logo ao chegar já era possível confundir o Chau Belle no meio dos demais praticantes. Laurent em outro canto sorrindo e conversando com outros. Foi o Bruno começar a fazer a abertura do evento.. E lá estava Chau tirando um sarro dele, “repetindo” as palavras em português.

Pauso aqui pra falar mais uma vez sobre expectativa. Eu sou um cara que nunca fui “fanzasso” dos Yamakasi. Admirei muito eles pela história, mas não tinha nenhum tipo de “adoração” pela prática deles, sempre muito rústica, meio “moda”, e nada lapidada (cat leap de sovaco alguem?). Pois bem, isso tudo mudou muito agora. Sou fã numero 1 dos caras. Não pela movimentação, mas pelas pessoas que eles são.
Voltando ao evento: A programação do dia começava com um aquecimento. Quer dizer, você não esperava que fosse um simples “aquecimento”, né? Mais de meia hora de corrida, quadrupedia, agachamentos, quadrupedia, precisão, flexão, corrida… Enfim. Não decepcionou. Exceto por um detalhe: Todos os exercícios de quadrupedia eram feitos no chão.. incluindo o asfalto. No dia mais quente, seco e ensolarado DO ANO em Belo Horizonte.

Ao notar que a dor na minha mão era de uma queimadura de primeiro grau e não das pedrinhas do asfalto, começou a surgir minha primeira decepção. Primeira nada, a única, porque de resto o evento foi incrível. Mas uma decepção foda: Com as bolhas que estavam se formando, fui descobrir mais tarde que seria praticamente impossível de prosseguir com qualquer treino que utilizasse as mãos.
Foi possível terminar o “aquecimento” fazendo flexões e movimentos com as pontas dos dedos, mas a segunda parte..

Atribuo isso a uma certa falta de tato dos responsáveis pelo treino. Não só pelas queimaduras, mas também por não permitir que tomasse água até o fim. (Já falei que era o dia mais quente, e o 92º dia sem chuva em Belo Horizonte? Pois é. Isso resultou também num problema de insolação da minha querida companheira..) Mas ao ir conhecendo eles mais a fundo, deu pra entende-los melhor. Falo mais a frente.

Bom, após o aquecimento e as devidas águas, fomos separados em 2 grupos, onde cada um seguiu um Yamak diferente pra uma série de exercícios. E foi aí que comecei a notar que era game over para minha mão: Não era possível subir muro, segurar muro, fazer vault, sequer o palmspin.. OPS DIGO Demi-tour! NO ENGLISH! FRENCH NAMES! E acompanhei o treino como espectador, só fazendo precisões e o que fosse possível na minha condição.

Os treinos foram muito bacanas. Mais técnicos e menos físicos, os Yamak procuraram aproveitar bem o espaço da pista de pentatlo militar. E pelo que acompanhei seguiu sem problemas com os treinos. Na verdade esse momento lembrou um pouco o treino do ano anterior, com PKGEN & os ADAPTados. Movimento simples como underbars, precisões, demi-tours, vaults, e brincadeiras com obstáculos. Sim, você é um cara bem informado pra saber que a prática deles não tem nada com a filosofia de velocidade & eficiente do David Belle, certo? Fizemos algumas experiências que mexiam mais com a criatividade e uso do corpo. Catleap com pirueta, giros por cima de mureta, palm/wallspin (ops french name! Demi tour!), etc.

Até que terminou o treino e Chau puxou um longo alongamento final enquanto Laurent chamava o resto do pessoal para outro alongamento.
Fomos para uma loja de Açaí, e surpresa: Chau se mostra o primeiro gringo do Parkour que vem para o Brasil e não se apaixona pela fruta! Digo pelo açaí, porque afinal ele não achou nada mal a “paisagem” mineira.. Enfim.

Deu 21h, e o grupo que tinha “direito” foi para o ponto de encontro “secreto” para o Parkour Nuit. Pra quem não conhece, Parkour Nuit (noite Parkour) é um video de David Belle e seu grupo (entre eles Foucan, Kazuma, Vigroux) treinando durante a noite em Lisses. Já falei de expectativa, né? Fui na esperança de um treino parecido, com aquele clima, descobrindo espaço, em silencio, em um grupo pequeno… Mas infelizmente não foi tão legal assim. Talvez pelo número de pessoas, talvez pelo aparente cansaço dos gringos.. Acabou por ser um treino técnico (Chau) e físico (Laurent) separados, durante a noite, num lugar com pouca iluminação. Não posso opinar sobre o treino de Laurent, mas Chau foi um “doce” de pessoa. Sempre muito presente, ajudando muito, sorrindo, fazendo piada, incentivando.. “Da vontade de levar ele pra casa e colocar num engradado”, como diria a Stella, aluna da academia e companheira de viagem.

23h, fim do primeiro dia, fomos mortos pra casa. Ao acordar na manhã seguinte, constatei o que eu já devia saber na minha condição física atual: Minhas pernas haviam declarado óbito e não poderiam ser mais requisitadas. Assim me restou aproveitar de forma mais passiva o resto do dia. E para minha sorte, o dia começava as 10h com uma seção de video dos Yamak e uma rápida seção de perguntas e respostas para os caras. Após a seção de vídeos, inclusive alguns que eu não conhecia, a seção de bate papo foi definida por 1 pergunta pra cada grupo de ~8 pessoas. Infelizmente as condições não proporcionaram uma oportunidade ideal de bate papo, o que foi agravado pela falta de entendimento da prática pelo tradutor. As perguntas foram as mais variadas e esperadas. “O que vocês acham de competição”, “O que vocês preferem: Parkour ou FR”, “Como é sua alimentação” até perguntas mais sobre as raízes dele, tais como “como diferem os treinos de antigamente e os de hoje”, “qual a influência de Raymond no início”, e “Voces possuem um planejamento de treino? “. Infelizmente quase nenhuma pergunta foi respondida como esperado (exceto pela última: Basicamente, “não”.), e através das respostas notamos a “brutalidade” deles.

Quando chamo eles de brutos, não me refiro só a conotação de “forte” ou “viril”. Mas bruto no sentido daquilo que não foi lapidado. Durante todo o papo, e sobretudo com uma conversa mais direta e pessoal com Chau depois, foi possível ver o quanto de coração essas pessoas têm. Se tratam de pessoas com origem humilde, com muito VALOR pra compartilhar, e pessoas que falam muito com o coração e menos com a razão. É como a expressão “diamante bruto” – pessoas sem muito refinamento, geralmente humilde, mas que têm muito valor dentro de si (já viram Aladdin?). Isso inclusive é uma coisa que vejo em vários ciclos das comunidades de Parkour. Sobretudo no nordeste, mas também em São Paulo e no Rio.
Isso foi o que mais me fascinou. O quanto de legitimidade e coração esses caras têm. O sorriso deles, as brincadeiras como crianças, a felicidade ao manter o grupo unido. A maior bandeira levantada por eles, é a união. É manter o grupo unido e se ajudando, usando a energia um do outro. É mostrar que as pessoas podem ter divergências de opinião, mas compartilhar dos mesmos valores e se fortalecer disso. É o “espírito” forte.

São pessoas que me fizeram valorizar opiniões divergentes a minha. Como exemplo, Chau mencionou que David uma hora falou “eu preciso treinar sozinho” e se separou do grupo, se isolou. Eles viram isso como uma coisa ruim, mas se assemelha muito a minha visão de que uma pessoa deve ser independente, e conseguir superar dificuldades por conta própria. Não estou discordando deles, estou mostrando que mesmo sem compartilhar da mesma opinião, consegui nutrir uma admiração imensa pelo seu modo de pensar. E com certeza trabalhar isso na minha vida, nos meus treinos, nas minhas aulas.
Enfim.

Acabou o papo, fomos almoçar e então para a ultima atividade do encontro, com o desafio proposto por eles. Com metade do grupo sem participar, Laurent pegou os interessados e foram fazer suas 8 séries (ou mais) de 101 (ou mais, não entendi ao certo) quadrupedias.

Nós, com nossos restos mortais, ficamos na praça, conversando, olhando, treinando, brincando… Até que Racha chamou o pessoal para uma leve brincadeira de equilíbrio em grupo. Fiquei instigado a participar, mas naquele momento não queria entrar no meio da brincadeira.

Alguns momentos depois, Chau puxou a brincadeira do “Tapé.. tapé le main”. Consistia numa roda de pessoas batendo palmas e repetindo o verso, enquanto uma se solta e se move pelo espaço livremente, até que resolvesse parar e trocar com outra pessoa. Se alguém falasse “UUUHHHH” e parasse a “música”, o praticante que estivesse se movendo deveria “paralisar” onde estivesse. Era ridículo: Se você estivesse em cima da barra, paralisasse lá. Se tivesse no meio do rolamento, paralisasse lá. Se tivesse no meio do ar..

Parasse flutuando! HAHAHAHA. A idéia era promover essa brincadeira em grupo, e também estimular um movimento solto. Se algum salto fosse interrompido no ar, Chau esperava que a pessoa simplesmente paralisasse e caísse do jeito que fosse no chão. E essa paralisação se dava até que a roda voltasse a cantar e bater palma. Mas o clima era meio que de roda de capoeira ou algo semelhante.

Foi um clima muito gostoso, embora as pessoas em geral estavam ainda meio travadas (sempre prevenidas para não serem interrompidas). Chau sempre falava que todos deviam fazer tudo mais rápido e pensar menos, se soltar. Mais tarde, quando conversávamos e perguntei sobre os catleaps de cotovelo, o tom de voz dele ficou mais agitado e começou a falar: “Mas não tem que fazer posezinha e pegar com a pontinha do dedo” (gesticulando e ridicularizando como se fosse frescura) “Fazer movimentinho assim, tudo certinho, com pose.. Por exemplo, na brincadeira do tapé le main, eu via muitos que se preocupavam em fazer técnicas perfeitas tudo muito certinho. Não é isso! Se soltem mais. Eu não vejo vídeos na internet, as pessoas buscam muito isso, repetir as técnicas perfeitas e sair se mostrando como se fosse ballet. Não tem essa necessidade!” (simulação da frase dele, tentando repassar o contexto). “Eu não gosto muito de ir treinar com praticantes de

Parkour. Eu gosto de pessoas normais, que estão treinando pela primeira vez, e não tem aquela mentalidade tão formatada e certinha de que parkour é isso, parkour é aquilo, isso é certo, isso é errado. Os novatos são como esponjas que absorvem tudo o que você tem pra passar.”

Nesse papo com Chau que foi onde tivemos uma chance de conhecer mais sobre ele. Uma pessoa incrível, bruta em todos os sentidos, e de muito valor. Um fofo!

Foram muitos assuntos, dúvidas, e fascínios pra tanta conversa. Foi tanto papo que com certeza rende facilmente outro(s) artigo(s). Mas uma coisa que marcou foi Chau olhando para aquele espaço, onde tinham tantas pessoas fazendo coisas separadas e falando “o que é isso? Todo mundo aqui, no mesmo lugar, e tão isolados, separados..” e realmente foi algo a se pensar. Pela experiência dos dois dias, vê-se que um dos pilares de seus treinos é a união, a energia que passa de uma pessoa a outra. São pessoas simples que vivem praticamente uma busca espiritual, e de um conhecimento 100% empírico. Não acredito que sejam perfeitos instrutores físicos, mas têm muito conhecimento de gigantesca valia.

Não tive tanta oportunidade de conhecer Laurent, que passou a tarde de domingo fazendo o desafio com os demais. No entanto, ao ir me despedir dele e agradecer por tudo, a receptividade e o sorriso com que ele me cumprimentou tirou por completo qualquer impressão anterior que eu tinha sobre ser sisudo, fechado, e arrogante. Mesmo sem ter conversado comigo antes ele não se aborreceu por eu ter interrompido o treino dele, e com aquele sorriso natural de uma criança se despediu todo piadista da gente. “Keep training… Oh, and stay in school!”

No final, o evento como um todo não passou aquele “primor” de organização como ano passado. Mas justamente porque não se fez necessário. A frieza de todo “profissionalismo” do evento da Parkour

Generations se contrapôs ao bom humor e ao “calor humano” dos Yamakasi (quase tão bom quanto os encontros nordestinos e cariocas). Acreditava que meu final de semana estaria dividido entre “conhecimento estruturado” (do EMPK, em referência ao ano passado) ou “calor humano” (do encontro baiano). Mas no final, o EMPK foi muito do segundo com pouco do primeiro.

Quanto a organização, não houve problema ou desencontros de informação que pudesse ofuscar a experiência de conhecer esses caras incríveis (exceto pelas queimaduras que não me deixaram tirar melhor proveito da oportunidade). Só tenho a agradecer ao PKMAX pela oportunidade que me fez rever alguns conceitos e entendimento da história do Parkour e de vida desses caras.

E também agradecer a maravilhosa companhia dos companheiros de viagem, entre namorada, colegas, alunos e professores da academia (Carla, Zico, Marcelo, Stella, Tom e Pipolo) que foram responsáveis por um final de semana tão legal. Todos que estiveram no evento também. Inclusive os caras que encontramos no alojamento, que ouviam o Saut de Cast… Obrigado mesmo!

Virada esportiva nesse final de semana e CTTembro semana que vem :D Estaremos lá!

Crédito das fotos é de Stella Szczerbenko, nossa querida aluna da academia ;)

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